O profissional da Contabilidade deve transcender as atividades de escrituração e estar mais próximo de seus clientes, em busca de soluções e inovações que possam agregar valor à operação da empresa, usando, cada vez mais, a tecnologia, para entregar serviços de qualidade, com mais agilidade. Proporcionando mais tempo para atender o cliente em outras necessidades de evolução. Essa foi uma das conclusões da live Contabilidade Consultiva: Desafios e Oportunidade para a Carreira, realizada pelo Instituto dos Contadores do Brasil (ICBR), com a participação dos Contadores Juliano Julio, Vanessa de Souza Pinheiro e Isabel Agostinho Xavier Stela, mediada pelo Doutor Iago França Lopes, vice-presidente de Desenvolvimento Profissional do ICBR e Professor da Fipecafi.

Juliano Julio destacou que a tecnologia tem que auxiliar o profissional da contabilidade, que deve se apropriar das novidades, como a Inteligência Artificial (IA) e o Chat GPT, para se desenvolver. Porém, ressalta que a criatividade é fundamental ao dia-a-dia, pois a tecnologia ajuda, mas não supre as necessidades diárias (mudanças na contabilidade).

Outro ponto fundamental, destacado, é a questão do julgamento. Ou seja, o profissional deve ter amplo conhecimento daquilo que está automatizado, para não ser vítima da chamada “Alucinação da IA”, que são as respostas erradas... “Não se sabe até onde a comunicação vai e se é correta. É preciso agir com zelo para defender seu ponto de vista, de forma correta. O Chat GPT é bacana, ajuda, mas tem que ter cuidado ao utilizar, preservando a técnica do contador” aconselhou.

Isabel Xavier destaca que o profissional da contabilidade nunca deve perder de vista que o responsável pelas informações a serem destinadas ao cliente. Para ela, há dois desafios atualmente: adaptação à tecnologia; e não estagnar no copia e cola. “Raciocinar, ter criatividade e ter a capacidade de julgar são pontos fundamentais”, ressaltou.

Mário Sinzato, Vice-presidente Técnico do ICBR, que participou das discussões, destacou que quem alimenta as IAs são seres-humanos e já há uma discussão, levantada pelos próprios desenvolvedores sobre a ética neste processo de alimentação, que pode influenciar nas respostas.

Hugo Ludwig Werninghaus, membro do Conselho de Administração do Instituto, ressaltou que a IA vem para agregar, pois propicia ao profissional mais tempo para fazer análises. Mas é necessário saber o que o sistema está fazendo, não basta deixar rodar. “Ter informação de forma fácil não quer dizer informação correta. É necessário voltar à palavra julgamento (criticar) tudo que está sendo feito. O “pronto” pode levar os próximos profissionais a não guardar as informações e não ter a capacidade de julgar”, alertou.

Parametrizações

Vanessa Pinheiro lembrou que um sistema bem parametrizado ajuda o profissional da contabilidade a agilizar o trabalho. Para ela, a postura deve ser de deixar os sistemas fazerem o que é automático e parametrizado. E o profissional deve fazer aquilo que o sistema não pode, que é pensar”, sentenciou.

Juliano Julio contou um case de uma multinacional fabricante de alimentos, na qual foi identificado, por meio da análise de relatórios por profissionais da contabilidade, que se mudasse a classificação de um bombom para wafer, o recolhimento de tributos seria menor, sem ter uma ilegalidade, trazendo um ganho para a empresa, trazendo valor para o acionista. “É possível transformar algo na contabilidade caminhando mais próximo do cliente, conhecendo-o e a sua operação mais a fundo. Gerar valor é a palavra de ordem”, afirmou.

Isabel Xavier destacou que com a postura de realizar consultoria para o cliente, o profissional da contabilidade, mesmo aquele interno da organização, desenvolve mais suas habilidades, se tornando um profissional mais valioso, caminhando mais próximo ao cliente, tendo o relacionamento com o usuário da informação.

Vanessa Pinheiro, que trabalha, atualmente, internamente em uma empresa de exportação, disse ser necessário desenvolver a percepção do que o cliente precisa, e isso faz parte da rotina. “Atualmente, 50% do meu tempo é voltado à consultoria do negócio dele, à evolução”, afirmou.

Para ela, é fundamental trabalhar as informações para fazer o cliente enxergar nos números dos contadores a realidade dele e ter possibilidade de tomar decisões.

Tempo que sobra

Isabel Xavier provoca sobre o que fazer com o tempo que vai sobrar com o uso da tecnologia? Para ela, é preciso olhar o ser humano, como ele se sente com a tecnologia, pois para tudo precisa-se de auto conhecer, conhecer suas competências. “Há espaço para todos. Se adaptar para o futuro, para que as coisas melhorem para os profissionais é importante. E quanto à pessoa? Cresceremos? Cuidaremos do nosso corpo e da nossa mente?”, questionou.

Para Vanessa Pinheiro, é importante se adaptar às mudanças, como ocorreu em outros momentos de evolução dos processos na contabilidade pois, na visão dela, o contador como essência da empresa, não vai acabar, pois é um profissional necessário para a manutenção das empresas. “Acredito num futuro no qual o contador continuará sendo um dos principais pilares das empresas”, previu.

Iago Lopes e Juliano Julio foram um pouco mais longe, questionando como será a contabilidade do metaverso? Juliano, prevê que o setor crescerá muito, mas também trará uma mudança tremenda. Para ele, investir no intelecto dos colaboradores é fundamental, pois a velocidade da informação prejudica, muitas vezes a qualidade da informação. “Cuidado com isso”.

André Luis de Moura Pires, presidente da Diretoria Executiva do ICBR, acredita na evolução da profissão contábil, numa sintonia do que vem ocorrendo no mercado, no qual o curso de Ciências Contábeis é o quinto curso mais buscado no Brasil, pois há uma visão que gera valor. “Não a contabilidade de hoje, porque daqui cinco anos será outra, feita por quem se permitir evoluir”, prevê.