A sustentabilidade e os Profissionais da Contabilidade são dois polos que precisam ser integrados, em função da nova realidade trazida pela cultura do ESG (Environmental, Social and Governance). Se o propósito da contabilidade é informar o mercado para que esse tome decisões racionais e economicamente eficientes, olhar apenas para os números financeiros já não formam mais a fotografia completa que o mercado precisa receber para evitar riscos. Por isso mesmo, é preciso expandir o conceito de transparência para envolver também a sustentabilidade e mostrar as oportunidades de negócio. O diagnóstico é de Vania Borgerth, membro permanente e vice coordenadora de Relações Internacionais do Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), membro do Comitê de Auditoria do Banco Santander Brasil e coordenadora da Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado (CBARI).

Vania Borgerth, que participou do evento ESG: mercado e profissionais de controladoria e finanças, promovido pelo Instituto dos Contadores do Brasil (ICBR), ressalta que, na verdade, o mundo do futuro será mais sustentável. Então, aprender a olhar para a sustentabilidade sob esse aspecto, nos leva, inclusive, a refletir sobre como mensurar a geração de valor aos novos negócios que a sustentabilidade tem criado.

André Luis de Moura Pires, presidente da Diretoria Executiva do ICBR, ressalta que a visão do instituto em ter promovido o evento sobre o assunto foi justamente que há uma grande oportunidade para os Profissionais da Contabilidade, que serão cada vez mais requeridos diante da realidade do ESG nas empresas. Tanto que, para 2023, a entidade deve promover outros eventos sobre o assunto e ainda criar um grupo de estudos.

No ICBR, os Conselheiros de Administração José Roberto Kassai e Solange Garcia dos Reis, professores doutores ligados à Universidade de São Paulo (USP), estão liderando as questões voltadas para o ESG.

Para Vania Borgerth, a questão é certamente um grande desafio, no qual é preciso expandir não só o nível de conhecimento do profissional, mas também a abertura para escutar os outros. É uníssono que, hoje em dia, a contabilidade tem um dos mais importantes papeis nessa transformação dos negócios, em razão do contador ser o, principal, responsável pelos relatórios corporativos. Por isso também é imperativo que os profissionais da área possam interagir com os demais profissionais e com o mercado, com base em critérios éticos, com compromisso, transparência, verdade, apresentando divulgações fidedignas já exigidas pelas normas que permeiam a contabilidade. 

No momento, muito embora nem todas as empresas estejam preparadas adequadamente a medir o que impactam e pelo que são impactadas. Os reportes de sustentabilidade atuais têm ajudado as empresas, ensinando-as a olhar para elas mesmas, ressalta Vania Borgeth. “Aí vão descobrir esses impactos e vão aprender a reportar” destacou.

 

Fundação IFRS

 

Vania Borgerth acha formidável o movimento da fundação IFRS em relação a questão do ESG porque havia uma pluralidade de padrões de reporte de sustentabilidade e a empresa escolhia qual gostaria seguir. Se não gostasse do resultado, escolhia outro, trocava, omitia o que não ficava bonito. Com isso o mercado não estava informado quanto deveria ou como gostaria. As ações da IFRS Foundation, tem estabelecidos padrões globais. Em decorrência desse esforço, muito em breve o mundo todo falará a mesma língua, usando os mesmos conceitos e dando um mesmo diagnóstico diante de sintomas parecidos.

A previsão é para que neste ano já ocorra a concretizações de normas, pois é uma questão de urgência. As primeiras duas normas, denominadas ISSBs, já passaram por audiência pública e estão sendo refinadas pelo da IFRS Foundation e devem ser aprovadas no primeiro trimestre de 2023.

Os esforços de normatização das divulgações do ESG, estão concentrados principalmente no CBPS, órgão espelho do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). As normais aprovadas na IFRS Foundation, ser deverão ser traduzidas e adequadas ao mercado nacional pela CBPS, para que depois possam ser absorvidas pela a Comissão de Valores Mobiliários - CVM e os outros reguladores do Brasil.

Vania Borgerth acredita que quando a IFRS Foundation emitir essa norma, ela deve se tornar já requerida muito rapidamente, ainda neste ano, em todo o o mundo. “E por que isso? Porque o primeiro tema de norma é clima e clima é urgente. Não se pode perder tempo. Se quiserem conter a elevação da temperatura do planeta, as atitudes têm que ser tomadas agora”, afirmou.

Para ela, já há uma preparação para implantação das normas e a IFRS Fundation tem condição de faze-la, porque as normas que serão lançadas são baseada no TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures), que muitos países já estavam espontaneamente usando. No Brasil, inclusive, esse padrão já se tornou obrigatório para os bancos brasileiros em 2022. “Então não é uma norma nova, não tem critérios novos, ela só será requerida de forma padronizada e harmonizada da mesma forma, no mundo inteiro”, reforçou Vania.